UM DIA DE CANA
Era um dia de semana qualquer, para eles, porque para mim era algo totalmente atípico. Acordar 3h da manhã, para estar as 4h dentro daquele humilde ônibus que seguiria rumo ao canavial era inédito para mim.
No caminho até o local de trabalho, o silêncio dentro do ônibus era o único ruído que se ouvia em meio a escuridão da madrugada.
Chegando no imenso canavial, nos primeiros minutos do amanhecer, um instante para aquele que seria um dos combustíveis durante o suado dia de trabalho: o café. Mesmo nesse momento um pouco mais descontraído, a maioria mantinha a cara fechada e o olhar distante.
Trocavam poucas palavras. Parecia até que estavam guardando energia para o dia que viria pela frente. Pegaram seus pertences e seguiram numa "procissão" rumo a plantação de cana.



Durante as primeiras horas da manhã os facões já se movimentavam sem cessar. É como se as fileiras da plantação se dividissem em estações de trabalho e cada boia fria fosse responsável por ela. Quanto mais cana eles cortam, mais ganham. Isso é medido ao final do expediente que se encerra por volta das 2 horas da tarde.
Quando chegou aproximadamente 10h da manhã, o facão foi trocado pelas marmitas que cada um trouxe de sua casa. O almoço foi apreciado ali mesmo, e assim que terminaram, muitos já voltaram ao seu posto de trabalho e o corte recomeçou. Alguns se estenderam um pouco além, para mais um café ou um cigarro. Conversaram um pouco e logo já retomaram o corte.
Ali existiam homens e mulheres, jovens e idosos, com famílias grandes ou pequenas. Existia aquele que ria fácil, mas também aquele que não via motivos para sorrir. Os que cantavam durante a colheita e os que apenas ouviam um rádio de pilha. Existia amizade, cooperação, suor. Porém, o que não lhes faltava era esperança. Esperança em ver um filho na faculdade, longe da roça. Esperança em breve sair dali e encontrar algo melhor. Com certeza não me faltaram exemplos de que humildade e humanidade podem caminhar juntas. Uma pauta para sempre lembrar, histórias para nunca esquecer!









